8 de junho de 2011

BAUDELAIRE,O POETA QUE INCORPOROU EM VÁROS TRABALHOS AS FORÇAS DO MAL QUE CERCAM A HUMANIDADE.

POR BEATRIZ ALGRAVE
Charles Baudelaire é considerado freqüentemente um dos maiores poetas do Século XIX, influenciando a poesia internacional de tendência simbolista. De seu estilo de vida originaram-se na França os chamados poetas "malditos". Um revolucionário em seu próprio tempo. Hoje ele ainda é conhecido, não somente como poeta, mas também como crítico literário. Raramente houve alguém tão radical e ao mesmo tempo tão brilhante. Mal compreendida por seus contemporâneos, apesar de elogiada por Victor Hugo, Teóphile Gautier, Gustave Flaubert e Théodore de Banville, a poesia de Baudelaire está marcada pela contradição. Revela, de um lado, o herdeiro do romantismo negro de Edgar Allan Poe e Gérard de Nerval, e de outro o poeta crítico que se opôs aos excessos sentimentais e retóricos do romantismo francês.

Poeta e crítico francês, Charles-Pierre Baudelaire nasceu em Paris em 9 de abril de 1821, na Rua Hautefeuille, nº 13 (casa já demolida; localização atual da Livraria Hachette, Boulev. St. Germain).

Joseph-François, o pai de Baudelaire, morreu em fevereiro no ano de 1827, quando Charles-Pierre tinha somente seis anos de idade. Após a morte do seu pai, Baudelaire foi criado por sua mãe e por sua enfermeira, Mariette. Sua mãe, porém, casou-se novamente em novembro de 1828. O padrasto de Baudelaire, Jacques Aupick, era um homem brilhante e auto-disciplinado. Distinguiu-se mais tarde como general e depois como embaixador e senador. Baudelaire, entretanto, não gostava de seu padrasto.


Em 1833, Aupick mudou-se com a família para Lyons, onde matriculou Charles Baudelaire em uma escola militar. A disciplina dura e o estudo rigoroso da escola tiveram uma influência profunda em Baudelaire e aumentaram seu desagrado para com seu padrasto. Na idade de quinze anos, Baudelaire foi matriculado em Louis-le-Grande, uma notória escola secundária francesa. Lá ele tornou-se cada vez mais insolente até, finalmente, ser expulso em 1839. Logo depois, declarou que pretendia tornar-se um escritor, para o grande desapontamento dos seus pais. Para evitar maiores problemas, entretanto, concordou em seguir estudos no Ecole de Droit, a escola de Direito de Paris. Mas seus interesses estavam dirigidos para qualquer coisa, menos o estudo. Em Paris, vai então morar em Lévêque Bailly, uma famosa pensão para estudantes onde conheceu diversos amigos boêmios, entre os quais os poetas Gustave Vavasseur e Enerts Prarond. Passa a viver um relacionamento amoroso com Sarah, uma prostituta de origem judia que era mais conhecida como Louchette. Em Bailly levava um estilo de vida excessivo, endividando-se cada vez mais. Durante esse tempo contraiu também sífilis, muito provavelmente nos prostíbulos que costumava freqüentar.


Procurando afastá-lo dessa vida boêmia, os pais de Baudelaire enviaram-no para fazer uma viagem pela África, seguindo primeiramente para ilha Maurício, em seguida na Ilha da Reunião e depois para a Índia. Saiu de Paris em junho de 1841 no navio, Des Mers du Sud de Paquebot, sob a supervisão do capitão Saliz. Durante todo o trajeto, Baudelaire permaneceu mal humorado e expressou seu desagrado em relação à viagem. Alguns meses após sua partida, o navio encontrou uma tempestade violenta e foi forçado a parar em um estaleiro para reparos. Lá Baudelaire anunciou sua intenção de retornar à França, apesar dos esforços do capitão Saliz em fazê-lo mudar de idéia. Acabou concordando em continuar a viagem. Apesar de seu desagrado quanto à viagem, é inegável que esta teve uma influência profunda em suas obras. Deu-lhe uma visão de mundo que poucos de seus contemporâneos tiveram.
Depois de seu retorno a Paris, Baudelaire recebeu uma herança de 100.000 francos deixada pelo seu pai. Com esta fortuna, mudou-se para um apartamento na ilha de Saint-Louis, onde freqüentou as galerias de arte e gastou horas com leituras e passeios. Por causa de seu comportamento excêntrico e roupas extravagantes, Baudelaire ganhou a reputação de dandy.
Em 1842 conhece Jeanne Duval, uma atriz do Quartier Latin de Paris. Jeanne era figurante no teatro da Porte Saint Antoine, entretanto sua maior ocupação era mesmo a prostituição. Como amante de Baudelaire, teve grande influência em muitas de suas obras. Sua beleza morena era a inspiração de diversos de seus poemas. A mãe de Baudelaire, entretanto, era totalmente indiferente a ela, chamava-a depreciativamente de "Vênus negra" por Jeanne ser mestiça. Em 1847, Baudelaire encontrou-se com Marie Daubrun, uma jovem atriz que foi sua amante entre 1855 e 1860, até que esta morreu doente. Em 1852, conhece Apollonie Sabatier, animadora de um salão literário muito badalado que era o ponto de encontro habitual para jantares com artistas e escritores famosos.
Baudelaire e Sabatier vivem um caso amoroso e ele escreveu-lhe muitos poemas que expressavam sua gratidão, porém depois que a paixão arrefece, passa a ter com ela apenas um relacionamento formal. Em 1854, já pensava em voltar para Duval ou Daubrun. A influência destas três mulheres em Baudelaire como escritor é muito evidente em seus poemas de amor e erotismo. Nessa época faz amizades com diversos escritores da época como Nerval, Balzac, Gautier e Banville e passa a freqüentar o famoso "Club dês Hashishins", um grupo de fumantes de haxixe que se reunia no Hotel Pimodan, onde passa a morar.
Em apenas dois anos esbanjou quase a metade de sua fortuna, e seus pais começaram a se preocupar com suas despesas excessivas. Colocaram-no então sob a guarda legal de um tutor, o escolhido foi Narcisse-Desejam Ancelle, um ato que Baudelaire considerou especialmente humilhante. Teve muitos débitos e foi forçado ainda a viver com uma renda muito abaixo do que estava habituado, sendo obrigado a viver dessa forma pelo resto de sua vida.
Enquanto o tempo passava, Baudelaire tornava-se cada vez mais desesperado. Em 1845 tentou o suicídio, embora tenha agido assim mais para chamar a atenção de sua mãe e de seu padrasto. Estes consultaram-no sobre a possibilidade dele voltar a viver com eles em Paris, entretanto Baudelaire preferiu continuar a viver longe dos pais. Em 1847 publicou Fanfarlo uma obra autobiográfica. Envolveu-se na revolta de 1848 em que teve um papel relativamente pequeno, ajudando na publicação de alguns jornais radicais de protesto.

Em 1852, Baudelaire publicou seu primeiro ensaio sobre o escritor norte americano Edgar Allan Poe. Tinha conhecido a obra de Poe em 1847, e começou a traduzi-la para o francês mais tarde. Foi influenciado extremamente pelas obras de Poe, e incorporou muitas de suas idéias em seu próprio trabalho. Publicou cinco volumes de traduções de Poe entre 1856 e 1865. Os ensaios introdutórios a estes livros são considerados seus estudos críticos mais importantes, destacando-se sobretudo o trabalho intitulado “O princípio poético” (1876).


Em 1857, a primeira edição de Les Fleurs du mal foi publicada por Poulet-Malassis um velho amigo de Baudelaire. A obra não foi bem aceita pelo público devido a seu foco em temas satânicos e lesbianismo. Menos de um mês depois que o livro foi posto à venda, o jornal Le Figaro publicou uma crítica mordaz que teve efeitos devastadores na carreira de Baudelaire. Ele e seu publicador foram ambos acusados de ultraje à moral e aos bons costumes. Foi multado em 300 francos, e seu publicador foi multado em 200 francos. Além disso, seis dos poemas no livro foram proibidos porque foram considerados muito imorais para serem publicados. Só a partir de 1911 apareceram edições completas da obra.
Compôs também mais poemas para a segunda edição de As Flores do Mal, incluindo "A Viagem", que é considerado um de seus mais belos poemas.

Em 1860, publicou Paraísos Artificiais, ópio e haxixe , uma obra ao mesmo tempo especulativa e confessional, que trata sobre plantas alucinógenas, parcialmente inspirado no Confissões de um comedor de ópio (1822) de Thomas De Quincey. Durante toda sua vida, tinha recorrido freqüentemente às drogas a fim de estimular a inspiração, mas viu também o perigo de tal hábito. Concluiu que havia alguma espécie de "gênio mal" que explicaria a inclinação do homem para cometer certos atos e pensamentos repentinos. Este conceito das forças do mal que cercam a humanidade reapareceu em diversos outros trabalhos de Baudelaire.
A segunda edição de As Flores do Mal apareceu em 1861, com trinta e cinco poemas novos. Em poucos meses seguintes, a vida de Baudelaire foi marcada por uma série de desapontamentos. Foi desanimado por seus amigos de se candidatar a uma vaga na Academia Francesa de Letra, que esperava que pudesse ajudar a alavancar sua carreira de escritor. Devido a sua crise financeira, era incapaz de ajudar o seu publicador Poulet-Malassis, que acabou preso por não pagar as dívidas. Além disto, descobriu que sua amante Jeanne Duval tinha vivido por diversos meses com um outro amante de quem ela havia dito a Baudelaire ser apenas seu irmão. Em 1862 começou primeiramente a se queixar de dores de cabeça, náuseas, vertigens e pesadelos. Todos estes eventos devastadores, junto com seus problemas de saúde em decorrência da sífilis que contraiu na juventude, causaram a Baudelaire à sensação de que estaria enlouquecendo.
Em abril de 1863, Baudelaire saiu de Paris e foi para Bruxelas na esperança de encontrar um publicador para suas obras. Lá sua saúde piorou consideravelmente e em 1865 sofreu um ataque de apoplexia. Continuou a sofrer uma série de ataques, um destes teve como resultado afasia e uma paralisia parcial. Após permanecer em uma casa de repouso por dois meses, retornou a Paris no dia 02 de julho. No dia 31 de agosto de 1867, morreu de paralisia geral nos braços da sua mãe.
Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
• O spleen de Paris

• Obras estéticas
• Paraísos Artificiais
• Sobre a modernidade
• As flores do mal
• Escritos sobre arte
• A Fanfarlo
• Pequenos poemas em prosa
• Richard Wagner e Tannhauser em Paris



BIBLIOGRAFIA SOBRE O AUTOR

BAUER, Roger. Baudelaire und die deutsche Romantik. Euphorion. v. 75, n. 4, p. 430-443, 1981.

BÉGUIN, Albert. L'âme romantique et le rêve; Essai sur le romantisme allemand et la poésie française. Paris: Librairie Jose Corti, 1956.
BOWMAN, Frank Paul. French Romanticism; Intertextual and Interdisciplinary Readings. Baltimore / London: The Johns Hopkins University Press, 1990.
BAUDELAIRE, Charles. A modernidade de Baudelaire. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
BAUDELAIRE, Charles. Obras estéticas: filosofia da imaginação criadora. Petrópolis: Vozes, 1993.
BONNEFOY, Yves. L'Improbable et autres essais. Paris: Gallimard, 1983.

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