7 de abril de 2009

As crianças precisam muito mais de modelos e de exemplos do que de críticas




Gladis Maia


A maioria dos pais prefere iludir-se de que amam a seus filhos por igual, o que é impossível. Podem até amá-los intensamente, mas considerando-se as diferenças individuais das crianças elas não podem ser amadas de maneira idêntica pela mesma pessoa.

Os pais gostam mais de um filho em determinado momento e de outro noutro, à medida que cada um vai atravessando os vários estágios de desenvolvimento. O triste é que toda criança sofre quando não é preferida.

Mas, felizmente, o desejo é gerador do pensamento e o pensamento gera a convicção, o que permite a criança sentir-se em ocasiões suficientes como preferida e isto bastará para que ela mantenha a convicção de que é a preferida pelo menos a maior parte do tempo.

É claro que isto só ocorrerá se o seu desejo de ser a preferida - ou pelo menos uma das mais estimadas - não for muito gravemente frustrado pelos pais.

Em algumas famílias os pais de fato não apreciam muito um filho ou outro e não se comportam de maneira a inspirar admiração amorosa. Ainda assim a vida é sábia e esse filho que não admira ao pai - e portanto não deseja imitá-lo - pode encontrar uma outra pessoa para respeitar a imagem de quem possa formar-se.

E mesmo os filhos que amam aos pais sem restrição, à medida que vão crescendo deixam de admirá-los com a mesma ingenuidade. Assim que vão ampliando suas relações, os pais vão parecendo-lhes menos perfeitos.

Mas o desejo de ser o(a) preferido(a) entre os irmãos - embora possa estender-se a professores e a alguns amigos - continuará a existir com toda a força, até que a criança atinja a maturidade.

Já aquela criança que não conseguiu adquirir autocontrole numa idade mais tenra seguindo o exemplo dos pais e se transformou num adolescente rebelde, ainda assim pode sentir-se impelido – por necessidade inconsciente – a encontrar um mestre a quem imitar e possa buscar e encontrar alguém indisciplinado.

Exemplos não nos faltam, quem não viu, pelo menos no noticiário, bandos de delinqüentes juvenis que admiram e copiam um líder anti-social, com desastrosos conseqüências para si mesmo e para a sociedade.

O certo é que mesmo quando um filho admira os pais, gosta deles e sente-se amado por eles e deseja imitá-los não é fácil obter autodisciplina. Muitos pais não são tão disciplinados assim e não podem oferecer uma imagem clara a esse respeito para que seus filhos possam imitar.

É preciso um número infinito de exemplos paternos de autocontrole e paciência para ensinar os valores deste tipo de comportamento e influenciar a criança a internalizá-los.

A aquisição de autodisciplina é um processo lento e contínuo, de pequenos passos e muitas recaídas.

Se pelo menos enquanto pais e professores – especialmente durante a Educação Infantil – lembrássemos como freqüentemente éramos indisciplinados e como foi duro, quando crianças, nos disciplinarmos...

Se lembrássemos como nos sentíamos cobrados, maltratados, quando nossos pais nos forçavam a agir de maneira disciplinada contra nossa vontade... Ah, certamente nossos filhos/alunos então estariam em situação bem mais cômoda, assim como nós, sem rixa, pelo menos. Teríamos muito mais paciência, compreensão e disponibilidade para tratar do assunto disciplina.

Quanto mais uma criança ama aos adultos que cuidam dela, mais passa a imitá-los e a internizar seus valores que influenciam suas ações, conscientemente ou não. Ao contrário, quanto menos os ama, mais negativamente reage na formação de suas qualidades.

Qualquer emoção que nos domine nos moldará tanto para o bem como para o mal. A criança pequena não distingue o moralmente bom ou ruim. O amor filial a induzirá a imitar os pais em suas qualidades e em seus defeitos.

Mesmo depois de adulto, quando muitos filhos esforçam-se por serem diferentes de seus pais, nos momentos em que a emoção prevalece vai agir, vai ser como aprendeu a sê-lo na sua mais tenra infância ....

Portanto, corrija-se, auto-discipline-se, não esqueça que é o espelho da criança com quem convive. Procure ser coerente, pensando e agindo em consonância com os valores que apregoa, para não “ajudar” a formar nenhum mau caráter ou psicótico, que se evada da realidade por não suportar o desamor e a incoerência das pessoas que ama. Pense nisto! Namastê!

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