15 de março de 2009

Em tempos de Inclusão, vamos fazer uma pausa para aprender com os índios e seus curumins?


Gladis Maia
A Escola prepara o futuro e, de certo que, se as crianças aprenderem a valorizar e a conviver com as diferenças nas salas de aula, serão adultos bem diferentes de nós, que temos de nos empenhar tanto para entender a viver a experiência da inclusão! Maria Teresa Mantoan


Com raríssimas exceções – e graças a Deus elas existem – nós, os professores brasileiros, atuamos e fomos formados para ensinar em escolas tradicionais e para trabalharmos com alunos com uma identidade fixada em modelos ideais, permanentes e essenciais.

Fomos formados para atuar em escolas que não reconhecem as diferenças culturais, a pluralidade das manifestações intelectuais, sociais e afetivas, basta vermos que todo aquele aluno que destoa do modelo estabelecido para freqüentar as salas de aula, fatalmente será: ou reprovado, ou evadido ou encaminhado às classes especiais e é claro, taxados de portadores de necessidades educativas especiais, PNEE.

Mas na verdade, a grande especialidade deste tipo de ensino seletivo tem sido o fomento a comportamentos indisciplinados, competitivos, discriminatórios e preconceituosos. Diante disto, muitos trabalhadores em educação estão em crise frente a possibilidade de sua escola passar a ser inclusiva. Apavorados dizem não estarem preparados para tal ... São os professores demasiadamente preocupados com o seu saber, a sua disciplina, a MATEMÁTICA , o PORTUGUÊS e tal...

Estes professores parecem não se dar conta de que o papel da escola é formar gerações e desenvolver seus talentos, que não necessariamente coincidem com o conhecimento Nº 1 deles, os doutos ...

À escola cabe estimular as potencialidades dos seus alunos. As disciplinas existem como meios e não como fins em si mesmas. Meios para que a garotada conheça melhor o mundo e as pessoas. Para que se tornem melhores do que nós temos sido e convivam numa sociedade mais evoluída e humanitária do que a que construímos até aqui. Uma sociedade menos violenta e excludente, fraterna, onde a ganância e a violência não ocupem lugar central.

Precisamos melhorar nossa qualidade de ensino, para que os jovens sejam mais justos, mais éticos e mais felizes do que temos conseguido ser, porque a obrigação é nossa, já que a escola deve constituir-se num espaço privilegiado para a construção de personalidades humanas, autônomas e críticas.

E enquanto construímos a Escola que deverá se constituir num lugar para sermos e fazermos os outros felizes, para onde nos dirijamos, diariamente, alegres para estudar e/ou trabalhar, vamos aprender a ser gente com os primeiros habitantes de muitas terras neste planeta, inclusive da nossa, Brasil, Rio Grande do Sul, Triunfo: os índios.

O conceito de Espaço Sagrado não é somente uma crença filosófica entre os nativos americanos. Desde a mais tenra infância as crianças indígenas aprendem a ouvir e a respeitar as palavras dos outros, especialmente dos seus anciões. Aprendem a valorizar os seus pertences pessoais, e ninguém mexe em suas coisas sem lhes pedir permissão.

Em conseqüência deste exemplo, elas também não mexem nos objetos alheios sem pedir licença. Os adultos permitem que as crianças tenham suas próprias idéias, seus pertences, suas áreas de trabalho e de brincadeiras, assim como seus próprios direitos, que devem ser sempre respeitados. O fato de uma criança ainda ser pequena não justifica que o seu Espaço Sagrado não seja respeitado.

O dano causado a uma criança que foi invadida pode levar uma vida inteira para ser sanado ou nunca chegar a sê-lo. Dano causado por abuso físico ou emocional, pela destruição dos seus objetos, pela recusa de suas opiniões, pelo favoritismo dos pais por algum irmão, pelo desrespeito do direito dela a escolher suas próprias roupas ou brinquedos, ou ainda a negligência ou repressão materna.

As crianças indígenas são muitas vezes encorajadas a descobrirem um lugar que seja só seu e onde possam ficar sozinhas, de vez em quando, para aprenderem a fazer escolhas próprias e a ter prazer na companhia de seu ser interno. Os pais só irão conhecer este lugar quando ela resolver convidá-los. Os adultos providenciam todos os materiais que a criança necessita para fazer a construção e a orientam sobre como usá-los, mas estimulam-na a usar a sua própria criatividade na construção.

É muito importante que os pais elogiem os esforços da criança. Elas amadurecem se lhes é permitido desenvolver sua criatividade, imaginação, intuição e autoconfiança. Um dos elementos mais importantes para fazer as crianças entenderem o conceito de Espaço Sagrado é levá-las a desenvolver seus talentos, levantando questões que lhes permitam chegar às suas próprias conclusões.

Quando as crianças nativas agem de forma tola, ou não conseguem chegar a alguma conclusão sozinhas, seus avós podem simplesmente ignorá-las e falar como se elas não estivessem presentes, mesmo que estejam ao seu lado.

Esta situação pode estender-se por dias, enquanto ela vai elaborando sua própria resposta às perguntas colocadas. Depois que encontra a resposta, através do seu próprio esforço, ela é recompensada, tornando-se visível outra vez. Neste momento ela se sente valorizada e realizada. Este tipo de lição também ensina a ter respeito pelos avós e a valorizar a sabedoria dos mais velhos. E nós, os brancos e os negros ensinamos bonito assim? Os amarelos, nós sabemos que ensinam! Pensem nisto! Namastê!

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