23 de março de 2009

Ao viajar, os bons navegantes não decoram todas as ondas e gotas de água, mas norteiam-se pelas estrelas e mapas.



Gladis Maia

Onde está a vida que perdemos vivendo?Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?Onde está o conhecimento que perdemos na informação? S.Eliot


Estima-se que o volume de informações produzido pela humanidade dobra a cada 20 anos. Mesmo imaginando a impossível atividade de ler 10 h por dia, a uma média de 15 páginas por hora, sem finais de semana livres, que utilidade essa carga de informação teria?

Se pensarmos que cada vez mais o conhecimento deve tender à globalização e não à especialização, como durante muito tempo se admitiu, veremos que é impossível acessar toda a informação ao mesmo tempo. Mais que isso, inútil.
Apesar dessa constatação, nossa escola – do 1º ao 3º Grau - continua tentando formar alunos como se ainda estivéssemos no século passado e não no limiar de uma Nova Era. Ensinando fatos, cobrando sua memorização, num nítido desvio de seu principal papel: o de ensinar a aprender. As datas e os nomes da história são ensinados, mas não se fazem relações críticas entre os diversos fenômenos, entre as épocas.

Como na moral da conhecida historinha onde cinco cegos encontram um elefante e cada um apalpa um pedaço dele e sai relatando às demais pessoas como era o animal que "viu"... Infelizmente o nosso sistema educacional não se diferencia muito dessa visão cognitiva do elefante.

Ensina-se numa disciplina o “rabo”, na outra a “tromba” e espera-se que o aluno faça sozinho a parte mais difícil da tarefa, que é montar o elefante como um sistema completo em seu arcabouço de representação mental.

A interdisciplinaridade, tão falada e tão pouco praticada, não apenas leva à formação mais completa do estudante e do cidadão, preparando-o para interagir com as informações esparsas e construir seu conhecimento, como também permite uma compreensão mais profunda das próprias questões especializadas.

A maior parte da informação transmitida na escola é mero ruído, quando não se encaixa em algum modelo, quando não possui utilidade imediata. O indivíduo deve ser sabedor da existência de determinadas informações e de onde se localizam para que, no momento adequado, as acesse. Nesse sentido, é papel importante da escola criar ambientes de aprendizagem fundamentados na pesquisa, enquanto busca e avaliação de informações.


Com o advento da micro-eletrônica e da informática, a estocagem de informações em memórias quase infinitas, o processamento de dados em frações de minuto e a impossibilidade, no decurso de uma vida, de acesso à cultura universal são reveladores da impropriedade dos métodos escolares vigentes.

A escola está imobilizada na antiquada formação de erudição, que sequer atinge, em vez de se arrojar na formação de sujeitos críticos e dotados de autonomia de aprendizagem.

Com as rápidas transformações nos meios e nos modos de produção, resultado da revolução tecnológica e científica, estamos entrando em uma nova era da humanidade. Neste quadro a educação não apenas tem que se adaptar às novas necessidades como, principalmente, assumir um papel de ponta nesse processo: o papel fundamental do conhecimento nas relações de produção e, por conseqüência, na ordem e no poder mundiais.

Com os progressos da automação, centenas de milhões de desempregados se tornarão delinqüentes, com a redução do trabalho humano na produção e nos serviços, se não criarmos um novo sentido da vida na nova sociedade.

O profissional do futuro - e o futuro já começou - terá como principal tarefa aprender. Sim, pois para executar tarefas repetitivas existirão os computadores e robôs. Ao homem compete ser criativo, imaginativo, inovador.

A carga horária de trabalho desse profissional do futuro digamos que venha a ser de cinco horas diárias - sendo modestos, e o contrário disso é imaginar hordas de desempregados, delinqüência e barbárie. Dessas cinco horas - e sempre falando hipoteticamente - uma hora diária seria dedicada ao que podemos chamar de produção propriamente dita e as demais quatro horas seriam entregues ao estudo, à pesquisa, à aprendizagem.

Isso não é mera futurologia, pois hoje as profissões baseadas no conhecimento - e não na venda de força de trabalho - já funcionam desta maneira. Uma única boa idéia justificará o salário de vários anos de um empregado numa empresa.
A escola tem que preparar seus alunos para esta realidade, eles terão que aprender a aprender, e aprender a fazê-lo com autonomia. O conceito de educação permanente será mais válido do que nunca.

O homo studiosus como realização dos mais velhos sonhos humanistas, libertando o homem das tarefas desumanizantes - que qualquer máquina, robô ou computador pode fazer - e tornando a cultura, o saber e a arte sua principal tarefa. Neste cenário, onde está a diferença entre a escola e a profissão?

A cruel piada de que "quem sabe faz, quem não sabe ensina" reflete bem a desqualificação do profissional da educação. O amadorismo é hoje a maior praga da profissão de professor. A idéia de sacerdócio justifica a incompetência e castiga com os maus salários, a pedagogia do afeto - amor e ódio - asfixia a pedagogia do intelecto. A própria gestalt das escolas reflete sua contradição com a exigência dos novos tempos: seu visual geralmente está mais para um cartório de notas do que para um ambiente estimulador do prazer intelectual.

Para alterarmos este quadro, não basta a lamúria, a mera boa-vontade ou mesmo a determinação política: há que mirar-se nos demais avanços da humanidade e integrá-los na escola. Por que a escola tem que ser mais atrasada e mais enfadonha do que a TV ou um vídeo game ? Afinal, nenhuma criança demonstra atração por esta espécie de sadomasoquismo cognitivo. Uma das alternativas é o uso da tecnologia educacional, assunto para novo artigo.Pensem nisso! Namastê!

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